sábado, maio 23

Noturno 6.5


Soergo meus olhos a buscar outros olhos com certa angústia
É outro ano vencido nesta caminhada nestes dias incontidos
Mais uma vez quedo-me face a face diante de meus temores
Tanto mais nesta reclusão voluntária que a cautela me exige
Então devo confessar que bebi dos cálices do conhecimento
Até habituei com a embriaguez que todo o conhecer resulta
Descobri que esse meu silêncio, até se parece com a tristeza
Mas é a flor da imaginação que me sustenta nos seus braços
Descortinei na árdua busca de mim, o peso de aceitar-se a si
Em geral, encoberto entre as brumas obscuras da ignorância
Encontrei além de mim, outro olhar para somar nessa viagem
E com esse alguém violar os limites, romper todos horizontes
Esperança e liberdade cabem na vereda de um futuro a dois
Sei que quero a vida, mas martela na mente a dura realidade
Que nutre a sensação que viver é tão frágil e o tempo curto
Nem sei quão curto, mas sei que não farei fácil para a morte
Se a vida fosse como dormir, seria só alterar de lado se doer
Não é simples viver sem sonhar e aí a poesia se faz imperiosa
Que nos versos permite romper as barreiras da mediocridade
Assim estendo minhas asas ao primeiro brilho de cada manhã
Esparzo a poeira da noite sem lamentos nos olhos ou na alma
Chego sóbrio a esta reflexão existencial aos sessenta e cinco
Tal qual o faço desde que fui renascido, há cinco anos atrás
Eu não tenho saudade do que um dia fui, sei que envelheço
O que faço feliz, sem me entregar e sem resistir, reinventado

Um comentário:

  1. Escrito para este 18 de maio tão diferente num 2020 que não será esquecido.

    ResponderExcluir