Talvez ainda haja sol, até morno, depois desses dias de espanto
Quem sabe algum entardecer relativo,
um desenho irrelevante
Algo que, no silêncio das frases,
projete a sombra enternecida
Das cidades quando só há breu em um antigo viés de desilusão
Quem sabe amanhã nessa esquina
perdida toque alguma música
Que ouvíamos nos sonhos, memórias
desmedidas, como camisas
Já opacas de tão vestidas, quase sem cor reveladores
do tempo
Uma roupa antiga, quase feia, que só o conforto justifica usar
Olho para minhas cicatrizes que atestam que existe o passado
São como um livro dolorido que adverte
de agruras no futuro
Que nem o poema pode ignorar, mas
ainda assim escrevo versos
Sabendo que escrever não me trará nenhum conforto material
Sinto-me recluso, tolhido, quando
queria ser um anjo com asas
Flutuando entre milhões de luzes e rumando a dias mais felizes
Sei que falo quando devo ficar
calado, mas nada assim anormal
Sei que sou fiel a minhas paixões mesmo nos
dias mais cinzentos
Acho que irei reescrever novos dias com a loucura
que há mim
Será assim que vou recomeçar, inspirado por
tudo que não tive
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