quarta-feira, janeiro 5

Por Amor

Este poema, vem como uma espécie de homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, rompendo com meu estilo usual de escrever, sem, entretanto, abandonar a veia surrealista que é minha forma de dizer que a poesia foi, é e sempre será um gesto de rebeldia.

 

 

Ah vida, o que não fiz por amor

Janelas abertas, mundo fechado

Versos avessos, verbos errados

Buscas concretas, edifícios virtuais

Ruas sujas e caminhares descalços

Absolvição silente ao pé do cadafalso

Por amor, eu me fiz em verdade

Sofri, calei, berrei sempre sem rima

O ser que fala, aspira ao dom de criar

Perfaz do sacrifício em seu desejo

O agridoce sabor do desconhecido

Meu próprio sabor de ter existido

Por amor vivi, morri, sangrei, sorri

Sonhei sonhos leves, sonhei pesadelos

Briguei co’a escuridão na paz da luz

Ao pé dos ipês, ouvi o bem-te-vi

Quis ser o céu azul, o sol, o sal, o cio

Ao ver a revoada das andorinhas

Sem medo me lancei em ti, vida

Nas águas, nas marés, na chuva

Fui incompreendido, obra inacabada

Por amor, fui pai e, assim, o filho

O poeta (o homem) é apenas sopro)

O futuro é o hoje, o oblívio da morte

Diga-me o que resta fazer por amor?

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