segunda-feira, janeiro 3

Estio

 

Tocou uma canção triste e esquecida na velha vitrola

O vento resolve trazer lembranças cobertas de musgo

Na casa vazia, porta e janela fechadas, da tua partida

 

Num remoto carnaval da alma, vesti fantasia de poeta

Esparramei confetes de palavras e versos serpentinos

Teria sido somente o desatino de meu pássaro cativo?

 

Sei que isso me trouxe sol e calor quando era inverno

Trouxe flores que desabrocharam em meu peito vazio

Levou o sofrer insano de não ter quem chamar querida

 

De desenganos em desenganos, já não vivo de ilusões

Mas sei quem me acolheu, quem calou o meu lamento

Que surgiu e me devolveu o vigor para tecer os versos

 

Sopra o vento peregrino e o vozerio dos mortos se vai

Muito antes que eu canse de te olhar, a noite chegará

Eu mirar-te-ei de novo e de novo para nunca te perder

 

Esperei pacientemente por tua chegada ao meu porto

E agora ai estás viva, táctil, qual a luz a romper a noite

O rumor da ventania já vai se silenciando na distância

 

Chega o estio por estas paisagens ainda adormecidas

A alameda em flor, cálida, se estende até o horizonte

No fim da estrada a serra recorta da paisagem, o azul

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