sexta-feira, outubro 6

Traças

O assovio do vento soprou folhas da veneziana

Os espíritos famintos clamavam na noite cruel

Um gemer de afogados, os barcos na tormenta

O grito longínquo no jardim, ecoou na calçada

As árvores frondosas se desnudam, uma a uma

Foi assim que partiste deixando o silêncio aqui

Nem olhou atrás, na vereda gris da madrugada

Agora estás de volta silenciosa qual uma serva

Servil como uma gueixa, sem dizer teu intento

Espreitando o escuro qual um estranho animal

Esperarás que eu te receba, te ofereça flores

À sombra daqueles dias, te digo, tudo morreu

Da semeadura vã, vem uma colheita arruinada

Adeus cerejas maduras, calda doce qual o mel

Nem as frutas, os lírios ou mesmo os rouxinóis

Também secou-se nosso rio povoado de verões

Não há caminhos a seguir num mundo de traças

Pela garganta o gosto amargo d’um nunca mais

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