Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
quarta-feira, agosto 28
Caracol
Eu poeta tardio,
minha voz tardia sem rimas ou razão
segunda-feira, agosto 26
Intimamente Estranhos
Pra que fugir se não há novos
caminhos por onde ir
Já andei tantas ruas, andei por andar e todas iguais
Ruim por ruim, uma noite numa
Istambul esquecida
Os casebres, as mansões, as senhoritas nas esquinas
Outros tão velhos poetas se esquecem por cansaço
É que trago na algibeira sete
poemas e é dia dezoito
O céu continuará na tarefa de emoldurar
as nuvens
Elas que o esconderão quando o dia vier de chuva
A noite de lua nova exibe com sua luz miniaturista
Aos meus olhos também tão chuvosos, sua paisagem
Diante de mim árvores irretocáveis,
pássaros exatos
Na infância traída sentado nos
degraus da catedral
Lá dentro, seus dogmas, aqui
fora é noite, lá trevas
Disso, guardo no peito os sons de
sinos dominicais
Mas, nos ouvidos o que resta é
apenas um zumbido
Já é dia vinte e cinco e o sol a golpear minha janela
Se ao menos invés de março retornasse a setembro
Aqueles que eram amantes, ora mal se
reconhecem
segunda-feira, agosto 19
Humanos
Vida de cada diaAs máculas cotidianasImporta perder-sePara nos encontrarmosMorte de cada diaUma falsa purezaInutilidade ou salvaçãoBeneplácito perdãoDia de cada diaCorre-se a compartilharGestos, invencionicesCegos da verdadeVida, morte, diaNão sendo perfeitaA raça humanaPerdoa-se em Seu nome
segunda-feira, agosto 12
O Todo
Anuncio aqui um poema desenraizado do silêncio
O silêncio que mais que silêncio se fez
melancolia
Na angústia
inquietante que veio com tua partida
No contraste
de quando chegaste tão lentamente
Partiste tão
de repente que não pude me despedir
Qual as ondas colidem
bruscamente nos rochedos
E se vão como
espuma branca que parte tão veloz
Partiste tão rápido
que até os pássaros se calaram
Também as
flores do jardim já começar a murchar
Mas tu
descobrirás amiúde, toda a dor da solidão
Em meio ao
festim na soturna dança dos oráculos
Ou quando se
recordar dos ritos entre arvoredos
Saberás dos
meus caminhos nas palavras do vento
Enquanto a tarde
exala um cheiro de terra úmida
Não olvides
que minha voz não estará à tua porta
Quando te
fostes, restou o desafio da melancolia
Recorda, pois
não foi fácil me desgarrar de tanto
Quando teu
nome era o único signo da esperança
Mas isso se
foi, hoje pisas entre as aves de rapina
E assim te distanciastes
das dimensões iluminadas
Se o tempo se fez teu inimigo, a mim não intimida
O poema não se faz de palavras esquivas e fugazes
Na busca celeste e límpida da germinação do jogo
A poesia não é
o meio ou a extremidade, é o todo
terça-feira, agosto 6
Cúmplice
O perfume cálido do jasmim preenche o ambiente
A selva lá fora enorme, aqui um
fragmento de sol
Em tudo fui criado em antigos rituais de inocência
O barulho da tarde, cresci no murmúrio da grama
Onde todas histórias vieram
dançar fronte a mim
Dentro da noite sou sombra, escuridão eloquente
Palavras ácidas que devoram o sigilo dos sentidos
Neblina que turva a visão, entorpece
os sentidos
Mas em cada verso sobrevive um abraço
apertado
Ainda que para vencer a estrada, sigamos
pisando
A lama enxarcada de lágrimas
sob a lua de agosto
Do cadafalso, da guilhotina, da videira e o sangue
Da história repetida, o louvor apagando o
aqui só
Mas o ontem
ainda está vivo, ileso no seu pedestal
A boca cheia de estrelas, negando nosso inferno
O poema é a cicatriz que ficou onde era a ferida
O eco indiscreto repete
o que não deve ser dito
Na rua quatro, no jardim na
esquina com a cinco
Divago, sentado à janela, com a caneta nas mãos
Entretanto, calar-me não me afigura ser possível
A mudez é aquilo que em si nos
torna cúmplices
quinta-feira, agosto 1
Quando
Nem sei onde o
relógio parou para contemplar eu te despir
Sei que o tempo não
anda desde ver o teu corpo escultura
A lua se acanha no
brilho do teu sorriso luminoso de felina
Amanheço, mas não do
sonho do qual és infindo manancial
Doo nosso abraço,
acima da linguagem, a construir o verso
Para não ferir as
palavras, sob a maravilha de tua geografia
Nunca a vida verá
beleza tão pródiga sem clamar teu nome
Nunca uma beleza
humana fará como tu silenciar-me a voz
Senhoria de minha
vontade entre o relâmpago e a calmaria
Estas são
substâncias impecáveis nas esquinas da memória
Imagens rubras de
ócio e volúpia, o manto de seda diáfana
Só o que te cobre, enquanto sorvemos o azul do horizonte
No
abrigo do teu colo, nada neste mundo é dor ou tristeza
Pelas estradas de peregrino avanço mais lúcido que nunca
Porém é chegada a
hora de vestir teu jeans então partires
Mergulhar na selva
de concreto profunda, além do jardim
Onde semeei tuas rosas, onde sou a videira e tu és o vinho
Onde na brisa da tarde, os pássaros murmuram teu nome
Onde
eu espero o relógio parar de novo por te ver voltar
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