quarta-feira, agosto 28

Caracol

Eu poeta tardio, minha voz tardia sem rimas ou razão
Tu sim, tinhas razão, eras a andorinha do meu verão
Eu só sei que não sou eu quem sonha nos teus sonhos
Nem me vejo nu fingindo esconder-me dos teus olhos
Diante de ti, nua, tão felizes ríamos só para provocar
Brincar com nossos corpos nas tardes de sol a brilhar
 
Amava ouvir de tua boca “não vá” se eu afobado saía
Deixando todo esse azul entre nós na distância vazia
Tanto melhor se das promessas que fizemos, nem falar
Nunca mais ouvi minha caixa de música mágica tocar
Em mim, teu confessionário e me arrepender de nada
Eis que bastava duas salve-rainhas e a fita rebobinada
 
Sabias que meus ‘eu também’, queria dizer ‘eu te amo’
A verdade lúcida desse amor dispensaria um e outro
Mas mesmo quando sabias que era real, querias dizer
Mas um dia tu não voltaste e. rude, o telefone tocou
A voz disse algo sobre teu coração que nem entendi
Pois era meu teu coração e eu não o permitira parar
 
Toda a alegria daqueles dias, transmutou em sombra
nem sei mais quem eu sou, sob este céu enlutado
Hoje o médico disse que não é caso de amnésia, mas
Eu trocaria a memória, por uma noite sem pesadelos
Então só pude descrever a expressão de meus olhos
Como o espanto do caracol que cruzou a linha de sal

 


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