terça-feira, agosto 6

Cúmplice

O perfume cálido do jasmim preenche o ambiente
A selva lá fora enorme, aqui um fragmento de sol
Em tudo fui criado em antigos rituais de inocência
O barulho da tarde, cresci no murmúrio da grama
Onde todas histórias vieram dançar fronte a mim
Dentro da noite sou sombra, escuridão eloquente
Palavras ácidas que devoram o sigilo dos sentidos
Neblina que turva a visão, entorpece os sentidos
Mas em cada verso sobrevive um abraço apertado
Ainda que para vencer a estrada, sigamos pisando
A lama enxarcada de lágrimas sob a lua de agosto
Do cadafalso, da guilhotina, da videira e o sangue
Da história repetida, o louvor apagando o aqui só
Mas o ontem ainda está vivo, ileso no seu pedestal
A boca cheia de estrelas, negando nosso inferno
O poema é a cicatriz que ficou onde era a ferida
O eco indiscreto repete o que não deve ser dito
Na rua quatro, no jardim na esquina com a cinco
Divago, sentado à janela, com a caneta nas mãos
Entretanto, calar-me não me afigura ser possível
A mudez é aquilo que em si nos torna cúmplices


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