domingo, maio 9

Desencanto

As noites vem e vão e eu permaneço semimorto em minha solidão

No céu de parcas estrelas incertas não antevê nenhuma chegada

O negrume vaticina que esta dor será a minha inefável companhia

A chuva exalta as ausências desta vida, qual uma tristeza líquida

 

Vejo o gris de falsas conjecturas se sobrepor às cores da realidade

Um oceano de impossibilidades que me separa de um outro destino

Invento um colo imaginário a me resgatar dos suplícios do degredo

Em qual silêncio meu coração dilacerado se fez pequeno e oprimido

 

Sob o jugo do carrasco que acorrentou min’alma antes indomada

Tornando o ruflar destas asas inquietas em negras raízes silentes

Ora roubando o verso que diz do meu amor em rimas tão tênues

Ora em brados enfurecidos, onde só resta uma poesia cabisbaixa

 

A palavra cedeu ao amargo e o que outrora era árvore frondosa

Hoje é uma acha de lenha, cativa, atada a seus próprios enganos

Nesses gritos que rasgaram meu peito e não calam um só instante

Que resultam versos sem sentido, frases insanas, ferinas e cruéis

 

Nos porões do meu ser, minhas idiossincrasias definiram meus atos

De tantos desvarios e desencantos, de tantas lágrimas derramadas

Mais tantas outras omitidas, forjaram minha têmpera contra o mal

Mas cada resposta que recebo, é uma nova pergunta irrespondida

 

Sigo nesta alameda de tumbas onde jaz minha olvidada esperança

A qual, sonho eu, possa estar simplesmente adormecida e intocada

No crença que assim disperse os fragmentos de toda dor que vivi

Para se erguer em meio a um campo de trigo num outono a porvir

 

Queria acolher teu sorriso e te ofertar uma aurora que não tenho,

Mas que eu a esboço como se tivesse e não fosse apenas um sonho



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