domingo, maio 9

Lapsos fugidios


Lados ocultos congraçam a face exata que não se vê, mas que se sabe
Revelados como a fronte de uma casa esconde seus quartos e janelas
Seus espaços que resultam num acalanto presumível mesmo sem ver
No interior de cada cômodo um sucessivo desdobrar é assim abstrato
Alguns lapsos fugidios de memórias perdidas se aninham na ausência

Porem acordo, numa manhã fria, uma hora sempre há de se acordar
As janelas estão fechadas, dias distantes, certo quarto não existe mais
Figuras do passado, postas em sótãos que a memória recusa revolver
As imagens se quedam, frias como os dias inertes na escada do tempo
A ficção desvenda e cede as chaves que a fecham para o mais incauto

Os sons distantes supõem uma face acreditada, mas que jamais existiu
Olho em volta e vejo pessoas, tristes como os dias, procissão de velas
Que vêm em silêncio à exceção do tropel arrastado de suas desilusões
Se vão como peças mal esquecidas e mal lembradas d’outra dimensão
Suas faces não têm aparência, são instantâneos vagos, adeuses velados

Num ponto central dessa casa em todo seu esplendor, ora frio e branco
Éramos nós os ocupantes fieis à repartição de todo um espaço tão real
Nossas vontades as taboas do soalho; nossa paixão o verniz volatilizado
Impregnando as paredes de um odor que já identifica o vazio, a ausência.
A casa é o retrato de seu senhor, e assim nossa casa era feita de virtudes

Porém deixamos de cultivar, permitimos que nosso ego nos isolasse a sós
Erros que se desdobram em seu centrismo para nos alijar de sentimentos
Restamos planos, adimensionais, como num retrato que vai esmaecendo
Qual a imagem que se apequena no retrovisor de um carro que já partiu
Nem um aceno ou uma despedida, apenas um sumir sem qualquer razão

Os dias seguem indiferentes, nada em nossos corpos denuncia essa falta
Se a promessa de vir ter por aqui sob qualquer condição foi descumprida
Não ouvirei teu pranto e nem me tocarão tuas lágrimas caídas silenciosas
Não te doerão minhas dores, nem te afligira minha interminável angústia
Éramos partes de um só, mas seguiremos separados por mais outra vida

2 comentários:

  1. Pois é... gostaria de ser adolescente com a cabeça de hoje.. Os adolescentes são impulsivos. Certo? errado? não sei dizer! na verdade acho a sinceridade seria o mais correto.

    tbm acredito em outra vida.

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