domingo, maio 9

Pensamentos

Aproxima-se outro verão que promete ser causticante
O jardim ainda exala o frescor da brisa do amanhecer
À sombra da vegetação o canto dos pássaros a pulsar
Cantos que falam de um passado que teima em voltar

Minha mente é uma escuna de velas abertas ao vento
Que singra um mar de sonho a rumar ao velho mundo
Está por lá meu querer, meu porto ou é apenas ilusão
Digo à árvore distraída, par de segredos inconfessos

Para brotar entre as suas folhagens insanos devaneios
As flores a meu redor emanam a beleza que te roubam
Sei que és linda como ninguém e nem posso descrever
Não há ninguém a quem possa falar de ti, sobriamente

O tempo ecoa, meu amor mudo, verbo não conjugado
Com minha voz ruflada neste quase fim de primavera
A brisa indiscreta murmura teu nome ao meu ouvido
E eu a ouço mudo, silente como num apagar de luzes

Meu pensamento baldio a te buscar entre a ramagem
Mesmo sabendo que não irei te encontrar aqui ou lá
É meu destino ser solitário como a maré que se retira
Quiçá como as salas vazias diante das lareiras tardias

Desperto de meus sonhos viajores meio a lugar algum
Num mundo além dos patamares das minhas fantasias
Com meu amor que desabou como um cervo abatido
Pelas dúvidas e contradições que o dia a dia nos traz

Ao mesmo tempo que és a nascente de nova estação
És distância e a voz muda que faz meus olhos marejar
Sou apenas cinzas, um trecho de história não contada
Um cavalo a galope a buscar um lugar após o meio-dia
A porta fechada, um tempo perdido e não existe mais

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