domingo, maio 9

Angústia

O dia se abriu com uma nostalgia profunda que fez sulcos em sua alma

Uma angústia enorme ansiou-lhe pela face no escuro do pré-amanhecer

Vagas lembranças de caminhos fugidios, trazem a sensação de solidão

Nas ruas inda vazias não notava nenhuma presença seja visível ou não

As calçadas úmidas do sereno dos dias frios refletem das ruas as luzes

 

Dores lavradas em poesia cuja origem manifesta é projetada na sombra

Memórias vêm em turbilhão, aquecem a mente no atrito das vibrações
Acendem o clamor vívido doando a claridade interior tênue e furtiva

Inda pouco a noite agasalhava o sono e sua cabeça repousada sonhava

Um sonhar que se condensa e cujo espectro corporifica-se em matéria

 

Gera em corpo animado e quase real, doce remota imagem do passado

Assim ele percorre com a mão a distância bastante para tocá-la em vão

Na sua clausura vence o espaço na esperança de lhe sentir a pele clara

Qual um veludo de textura inigual, tecido pela saudade dessa distância

Recorda-se dela, os cabelos ondulados ao vento, dourados como trigais

 

Sente o perfume inebriante, próprio das fadas, como poderia esquecer

Mas ela fugiu e seus corpos separados trouxe uma solidão inimaginável

Que vem se desdobrar diante dos olhos, invariavelmente, entristecidos

Sem o brilho do fogo que ardia lhe no interior, restaram cinzas infindas

Tudo de beleza que clareava seu rosto, agora ofuscado, é grito remoto

 

Mas um dia a página se reabre a uma eletricidade que lhe invade a alma

Ouve o clamor do sentimento aprisionado no seu peito pela volta à luz

O novo canto lírico surge em imagens a tecer uma teia de perspectivas

Nesse coração em que se desdobravam as sombras, germinam sementes

Para afastar o vazio, mudo de gestos, que antes lhe aparentava infinito

 

Renasce a confiança que eles, homem e mulher, partes do mesmo existir

Suprem-se de um amor inenarrável capaz de nutrir-se mesmo à distância

Não será mais a distância física de um oceano que se chamará ausência

O querer vence o espaço, liga suas almas que vivem em terras distantes

A claridade restaura o rito e a vida ávida de desejo enfim recria o ritmo

 

Na flor desse desejo se liberta o pássaro que voa na direção do amanhã

Um comentário:

  1. nossa.. sensacional! Li e reli.. esse eu não havia lido, acho que pulei sem querer.. ADOREI!

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