terça-feira, agosto 14

Vida alada



Nalguma lembrança perdida uma voz diz-me que fui pássaro
Recordo-me do horizonte onde reinava majestoso o arco-íris
À distância a natureza no cio e seu indômito verde luxurioso
Lembro ainda os montes como guardiões e suas lanças eretas
Guardo mesmo a memória de infindáveis planícies espraiadas
Que se desdobram aos meus pés sobre as quais revoava célere
Imensos trigais que, dourados, o vento ondulava qual um mar
Espalhando, nas tardes, o suave perfume das flores do campo
As lânguidas e brancas nuvens recortam mansas do céu o azul
Imitando todas as espécies, míticas e reais enquanto flutuam
Outra rasante e venço as escarpas que se estendem até o mar
Do alto era simples fazer de conta que nada de mal acontecia
Sob um céu de utopias onde se ignora a angústia dura e cruel
Mas, vem o dia que já não basta sobrevoar a copa das árvores
E ignorar por descaso, o que a vida logo abaixo tem de surreal
Pois que entre as asas, mais que a mente, pulsava um coração
O amor ligou-me à terra à qual imergi como relâmpago faminto
Célere sem relutância à busca do repouso no regaço da amada
Hoje, meu consolo, é sentir sob meus pés esse pouso soberano
Guardo a pluma que restou, dentro do peito como um homem
Que deixou seu nome no espelho da memória, no livro do tempo

Um comentário: