quinta-feira, agosto 16

Vozerio




Hoje olhei lá fora pelo vidro molhado da janela do meu quarto
Onde os pingos de chuva outrossim resvalaram na madrugada
Vesti minha face calada, a mais serena, para refletir quem sou
Seria meu Ser uma fatalidade do destino ou plano concebido?
Ignoro o vozerio dos gárrulos e lanço-me nas impossibilidades
Conto os inumeráveis termos num paradoxo de ímpar precisão
Do que sou agora e qual será o caminho para se trilhar amanhã
Ouço suas falas entre olhares arregalados e orgulho exorbitado
Pobre conceito que fazem do meu Eu em suas prédicas lodosas
Em suas bocas, o sorriso impostado não oculta o tom de intriga
Ou a cupidez de serem sempre mais daquilo que eu nunca quis
A eles respondo com o carvão do silêncio, um riso mal contido
O vento gélido quase fere o rosto e a paisagem se tinge de azul
O negro pássaro, outrora cativo do silêncio alastra em seu grito
Desdobra suas asas e alça voo, para deixar apenas uma sombra
Aponta seu bico para o horizonte, risca o céu no romper do dia
Até que o voo finde tinto pelo véu da noite num quê de sinistro
Outra face não tão calada, nem a mais serena, reflete o espanto
De ver-me desacorrentado no vento veloz do absoluto desvario
A manhã que chega apaga não só os sonhos, também os signos
Na gaveta da cômoda, descansa a pergunta feita antes da chuva
Indago aos verdugos agora que repousam os pássaros e estrelas
Seria apenas mera gota d’água que me fez escrever esta poesia?


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