terça-feira, agosto 28

Lamentos


A lua desliza suavemente descrevendo seu arco no véu da noite
Olho a imaginar o que haveria no lado em permanente penumbra
Um mar de respostas incipientes jorra pelas janelas entreabertas
O ser que herda o inferno também herda coragem no seu âmago
É um sentimento complexo que diz sobre ter sonhos inacabados
Cheios do mistério que se multiplica nas noites estéreis de sono
Impregnadas de lamentos. Qual resposta que o sonho contempla
Quando se amanhece com uma sensação de aconchego e alegria
Ou quando o dia aporta no grito ferido de angústia na garganta

Pouco arranjamos saber sobre as verdades da psiquê sonhadora
Ressoa a dúvida se a vida poderia ter-nos doado mais de ternura
A ternura que havia nos acenos de alguém que se afastou cedo
Que partiu tão definitiva levando as alegrias e deixando a culpa
Que o tempo inexorável não amenizou e ora, ao invés, só fustiga
A tarde cai, ao brilho carmesim do sol, fluindo a luz da verdade
Invade e cora nosso rosto por nossos sentimentos insuficientes
Que nos consomem e ruem se estagnamos os desejos para saber
As razões porque o amor se move de inopino ao som dos poemas

No banco da praça, sob o arvoredo, olvido de algo arrependido
Algo que a memória trai, sob uma tarja da luz do luar, contudo
Eivado de dor e espanto ouvindo ao longe a rugir a tempestade
E o céu se esconde sob uma aura triste diante do pesado fardo
Enquanto a chuva salpica as folhas do salgueiro, pelas veredas
Vem no peito uma sensação de que devia ter criado mais raízes
Quando ainda cria que uma nova emoção perdida ser-me-ia fatal
Agora o tempo já vai avançado nesta jornada e refuto a piedade
Levo eu mesmo minhas cicatrizes, seja para o bem ou para o mal

Meu orgulho não aceita a compaixão e sorverei do fel que me é
servido sem sequer questionar os ensejos indeléveis do destino.

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