quarta-feira, maio 22

Máscaras


Novamente um silêncio sonante invade a noite e seus sonhos
Onde se anda livre dos grilhões de um cotidiano sem doçura
Sem respostas no ar morno da noite dos últimos dias de calor
Quantos, na procura de um fútil reconhecimento, irão mentir
Nessa batalha insana que vigora feita de perfídias e segredos
Falsidades e escusas são ditas como quem profere uma prece
Em tanto absurdo, a vergonha na face se lhes mostra ausente

Recolho-me no meu universo noturno povoado de lembranças
Imagens randômicas que passam ligeiras diante de meus olhos
As tranças vermelhas da menina magricela da casa na esquina
A fumaça evanescente do incenso que sobe perfumando o ar
As cores vibrantes das flores semeadas no jardim da alameda
As pedras irregulares do leito das ruas e o som ôco dos pneus
Dos carros que passam deixando para trás a fuligem do tempo

No mundo onírico, lanço meus feitiços a exorcizar demônios
Abro a caixa lilás, reluzente qual fulgor de milhares de estrelas
Dela germina o dia e sua luz preenche, límpida, o firmamento
Mas, de inopino, a nuvem alva se queda cinza e passa a rugir
E todos os planos que se construía, ruem qual a tênue alegoria
Daquele pierrô cuja angústia lhe fica patente nos olhos frios
Até quando devemos seguir a carregar as máscaras pela vida

Por mais que eu buscasse a palavra certa, muitas desgarraram
Foram tantas que ficaram para trás na calada da noite estéril
Nos desvãos onde se guardam sonhos inacabados ou sombrios
Enquanto isso desígnios do destino bailam de forma incomum
E a verdade é somente uma palavra escrita nas aparas de papel
Que amanhecem num cesto de lixo que lhes serve de mortalha
Um expresso, dia que segue; visto a máscara de quem nada viu


Nenhum comentário:

Postar um comentário