Novamente um silêncio
sonante invade a noite e seus sonhos
Onde se anda livre
dos grilhões de um cotidiano sem doçura
Sem respostas no ar morno da noite dos últimos dias
de calor
Quantos, na procura de um fútil reconhecimento, irão mentir
Nessa batalha insana que vigora feita de perfídias
e segredos
Falsidades e escusas são ditas como quem profere
uma prece
Em tanto absurdo,
a vergonha na face se lhes mostra ausente
Recolho-me no meu
universo noturno povoado de lembranças
Imagens randômicas que passam ligeiras diante de
meus olhos
As tranças vermelhas da menina magricela da casa na
esquina
A fumaça evanescente do incenso que sobe perfumando
o ar
As cores vibrantes
das flores semeadas no jardim da alameda
As pedras irregulares do leito das ruas e o som ôco
dos pneus
Dos carros que
passam deixando para trás a fuligem do tempo
No mundo onírico, lanço meus feitiços a exorcizar
demônios
Abro a caixa lilás, reluzente qual
fulgor de milhares de estrelas
Dela germina o
dia e sua luz preenche, límpida, o firmamento
Mas, de inopino, a nuvem alva se queda cinza e passa a rugir
E todos os planos que se construía, ruem
qual a tênue alegoria
Daquele pierrô cuja
angústia lhe fica patente nos olhos frios
Até quando devemos seguir a
carregar as máscaras pela vida
Por mais que eu buscasse a palavra certa, muitas desgarraram
Foram tantas que ficaram para trás
na calada da noite estéril
Nos desvãos onde se guardam sonhos inacabados ou sombrios
Enquanto isso desígnios do destino bailam de forma incomum
E a verdade é somente
uma palavra escrita nas aparas de papel
Que amanhecem num cesto de lixo que lhes serve de
mortalha
Um expresso, dia que segue; visto a máscara de quem
nada viu
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