sexta-feira, maio 24

Rumor



O rumor da água sugere o riacho não visto entre folhas trêmulas
Sobre a relva eclodem pequenas flores multicores tão desiguais
Os pássaros reúnem-se em grupos com seu murmúrio incessante
Logo anoitecerá e as aves se aninharão silentes nesse santuário
O negro véu se abrirá sob o azul dispondo a chegada das estelas
Como contas brilhantes de uma negra grinalda a celebrar a noite
O crepúsculo acende essa imagem em minha mente e pensamento
As fugazes palavras que fazem o verso, tal elas vêm, qual elas vão
Duram o tempo para que se entoem os segredos ao pé do ouvido
São grata memória de antigas juras tão cálidas ditas ao anoitecer
Tendo como fundo as montanhas que pareciam esculturas vivas
De vida invisível e nem por isso menos presente a todos sentidos
As árvores e suas raízes frias assemelham-se a sentinelas soberbas
Silenciosas, com sua silhueta a recortar o mar de estrelas no céu
Na branda atmosfera dessa contemplação que ao certo era sonho
Ao mesmo tempo que a lua derramava ao chão toda luz de prata
Sinto no paradoxo de minha solidão, uma presença deslumbrante
Seus cabelos vão quase a tocar o chão ao se balançar distraída
No balanço suspenso nos galhos míticos de majestosos carvalhos
Mesmo com meu silêncio, ela se volta e nossos olhares se cruzam
Uma leve brisa sopra, mas não minimizou o rubor de nossas faces
Nem desfez a surpresa de nos conhecermos, sem nunca nos visto
Ela era tão bela e a noite, nas horas que vão a meio, o seu templo
Sinto o pranto angustiado dessa deusa em seu coração apertado
Emudecido nos lábios solitários que não escolheram dizer adeus
Mas que a fútil realidade dos dias assim a obrigou a duras penas
Sua doce imagem virginal tocou meu coração no mesmo instante
Sorri-lhe com toda minha compaixão e seu olhar agradeceu feliz
Ouço uma melodia que se perfaz no ar e fala de amores perdidos
Assim, lhe prometi que minha voz sempre irá cantar a sua canção
A leve figura desaparece entre as árvores sem mover a folhagem
Deixando a fluir no ar o perfume envolvente das noites de verão
Retomo meu caminho, imaginando se um dia voltaremos a nos ver



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