Em outra noite vazia volto a dispor das palavras,
encadeando-as
O que faço como quase uma obsessão, a desenhá-las sem
cessar
Fico a acomodar as
letras vadias para lhes dar sentido e encanto
Tal qual a flor que
brota em meio à palha seca da grama invernal
E o poema irá amadurecer
como um filho que se espera vitorioso
Por um instante
sinto-me o Criador, que traz o inerte à esta vida
Nas duras batalhas do existir, é preciso proferir as
palavras leais
Enquanto outros as
fazem prostitutas, a enganar, mentir, falsear
Ah, no silêncio das
marés invento-me entre suspiros e murmúrios
Em meio a ilusões jamais alcançadas de estórias de amor e
paixão
Elaboradas de palavras errantes, que não foram destinadas
a mim
Mergulho as imagens
no meu silêncio interior e cogito sobre tudo
Ao longe as escamas douradas do pôr do sol, refletidas pelo
mar
Formam um manto de utopias improváveis e abraços
passageiros
Como se as flores
nos recusassem seu perfume e mesmo as cores
Assim emudecidas,
tão tristes como um céu que se tornou cinza
Os pássaros já não nos
dão seu canto melodioso e a lua não sorri
O tempo se apressa como nunca, porém não há lugar onde chegar
Mas
haverá a metamorfose e dias cinzas serão azuis, o silêncio se-
rá
cântico e as pétalas em cor darão a esperança da nova primavera.
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