quinta-feira, julho 4

Casa


Quando a mente é um campo obscuro de nítidas lembranças
As presenças perdidas a repovoar o vazio no remoto silêncio
Trazem à memória a visão inicial do que fôra o amor primevo
Éramos a certeza das sensações, não dois sonâmbulos tristes
Fundidos por muitos outros pretextos que não os do coração

Na escada que levava ao alpendre das conversas intermináveis
Até me ressoam nos ouvidos os passos apagados das chegadas
Ecoando no assoalho de madeira entre as sombras silenciosas
Guardo os cheiros florais da noite de verão nas tais paredes
E à distância o som do mar na infinita pulsação de suas ondas

Ao luar avermelhado o mar é uma planície bronze e ondulante
De líquido metal, intocável pelo tempo em meio à noite tépida
Quantas histórias que residiram atrás dessa fachada colonial
Nas noites que o firmamento brilhava estrelas desapressadas
Alimentando a imaginação com gotículas prateadas do sereno

As janelas azuis sobre o branco das paredes não estão mais lá
Restaram memórias que o fogo interior subsistiu em conservar
E aquela voz tão doce quanto familiar ainda rompe o silêncio
Nas noites que a seiva sagrada flui do céu na forma de chuva
A beleza desses sentimentos resiste ao oblívio que se reclama

A estrela cadente risca o manto noturno num sorriso distante
Bebo dessas lembranças para restar lúcido na vinda da aurora

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