Quando a mente é um campo obscuro de nítidas lembranças
As presenças perdidas a repovoar o vazio no remoto silêncio
Trazem à memória a visão inicial do que fôra o amor primevo
Éramos a certeza das sensações, não dois sonâmbulos tristes
Fundidos por muitos outros pretextos
que não os do coração
Na escada que levava ao alpendre das conversas
intermináveis
Até me ressoam nos ouvidos os
passos apagados das chegadas
Ecoando no assoalho de madeira entre as sombras silenciosas
Guardo os cheiros florais da noite de verão nas
tais paredes
E à distância o som do mar na
infinita pulsação de suas ondas
Ao luar avermelhado o mar é uma
planície bronze e ondulante
De líquido metal, intocável pelo
tempo em meio à noite tépida
Quantas histórias que residiram
atrás dessa fachada colonial
Nas noites que o firmamento
brilhava estrelas desapressadas
Alimentando a imaginação com gotículas
prateadas do sereno
As janelas azuis sobre o branco das paredes não estão mais lá
Restaram memórias que o fogo
interior subsistiu em
conservar
E aquela voz tão doce quanto
familiar ainda rompe o silêncio
Nas noites que a seiva sagrada flui do céu na forma de chuva
A beleza desses sentimentos resiste ao oblívio que se reclama
A estrela cadente risca o manto
noturno num sorriso distante
Bebo dessas lembranças para restar lúcido na vinda da aurora
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