terça-feira, dezembro 8

Borboletas de Chumbo

 A noite aponta o revólver abaixo da estátua de braços abertos

O abismo aplaude insciente do tanto perdido, cidade maravilha

As multidões, o coro do universo e até as rosas já emudeceram

Nos subúrbios da metrópole, onde só restou a caneta do poeta

Era uma cidade linda, mas agora a morte é entregue a domicílio

Os anjos faziam-se moucos, desapartados pelos disparos cá e lá

As crianças malabaristas equilibram limões já passados, no sinal

Esgueiram-se ávidos, invulneráveis, entre paquidermes de metal

Seu futuro estéril se esvai na madrugada com os olhos alagados

Que louco, caminha esquivo a exalar um hálito quente de verão

Nas calçadas tingidas de vermelho por mil borboletas de chumbo

No horizonte branco nasce, a trote, uma furiosa lua inesperada

Na esquina dessa rua cujo nome esqueci onde o sono não existe

Um outono bate à última janela fechada, em manifestos niilistas

Minha cabeça não pode digerir, ao passo que se contam mortos

Mas outros em desprezo pela vida caminham qual nada houvesse

O fogo ainda ilumina aquela fotografia que restou na imaginação

 

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