quinta-feira, setembro 30

As Marcas do Tempo

 A noite desaba sobre a terra e, no silêncio, o pio da coruja a anuncia

Nessas horas de sombra percebo que o tempo deixou marcas em mim

Reconheço que cada vez os dias se ausentam mais velozes e insípidos

Com menos espaço a lembranças nas horas saqueadas de meu futuro

Não mais tenho escutado as histórias que o mar segredou às conchas

Para, depois, depositá-las com suas espumas sobre as areias do existir

 

Sendo invisível o tempo é a ausência que avermelha a folha do bordo

O tempo não se soma, antes subtrai a si próprio pelas veredas da vida

Sei que assim a morte se faz mais próxima a inaugurar novo princípio

Atenção a quê espero manter declinando para seguir neste solilóquio

Que revela toda a solidão do poeta destacada dia a dia no calendário

Em aviar estratagemas para lidar com essas almas cruéis e sorridentes

 

Busquei conduzir meus dias, entre caminhos com portas sem trancas

Onde todo segredo tem limites felizes e da estrada se vê o horizonte

Não levei minha vida à deriva mesmo passando por paisagens difíceis

Por silêncios vorazes nas horas que as sombras se debruçam na terra

Muitos se afastaram e o tempo ensinou que foi mais lucro que perda

Jamais forjei o aço dos espelhos que me refletem, com o metal do vil

 

De outro lado, não me seduz a ilusão de merecer louros da perfeição

Nem tampouco a falsa modéstia de negar aquilo que lutei a aprender

O tempo revelou que devemos ignorar os sorrisos oblíquos e amargos

Bem como olvidar as palavras que ocultam aqueles que nos preterem

Longe de ser despedida, este poema só constata as marcas do tempo

O fogo vivo que aflige o fraco, mas coroa o que na luta restou em pé

 

O tempo marca a todos: uns veem cicatrizes, a outros são só medalhas

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