segunda-feira, dezembro 6

Insulto

Quem fôra eu senão aquele que deu de beber à morte

E agora canto à lua no âmbar de seu enorme nascente

Eu que talvez simplesmente não creia no final sinótico

Todavia perceba que aos mortos idade alguma convém

 

Há tempos descobri a verdade sobre a flor da infância

Que, imperecível sobre a mesa, era plástica e sem alma

Já me senti estrangeiro nesta terra, que não sou daqui

Mas bem aceitei, qual oblação viver esta vida por aqui

 

Desde então, foram muitas idas e lágrimas derramadas

Porque eu senti a extrema solidão do vento que passa

Hoje vim para escrever um poema de palavras gravosas

De versos que fendam cada consciência como punhais

 

Palavras vindas dos amanheceres da inocência perdida

Para relembrar essa voz extinta, na garganta da cidade

Um homem que não se ama, é jaz um homem derrotado

Fadado a navegar na quietude das caravelas do pranto

 

A tua face é o exemplo de como as coisas evaporaram

Uma distração do olhar e, de súbito, nada mais é igual

Tive tua boca na minha e não vi o singular ato de tê-la

E, em minutos impiedosos nem mesmo o ato de perder

 

O inverno chegou e qual um insulto, eu nem o percebi

Nem descobri qual palavra poderá remir os erros meus

 

 

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