segunda-feira, dezembro 27

Inquietude

 Não escutarás de mim as sílabas sombrias e inquietas

Porque me disfarço de eternidade nestas horas rasas

Para, sorrateiro, beijar tuas asas como a ardente seta

Com que Eros tocou-me de ti na insônia das estradas

E assim fiz um céu construído a fogo, almíscar e mel

Cheio de estrelas bêbadas do teu canto, meu sorriso

 

Não verás minha vida e morte embebida de cotidiano

Nem terás esta saudade embriagada num sonho irreal

Farei que tudo mude, mas que conserve a tonalidade

Do homem que sempre quis sonhar, sem fugir do real

Sem o sonho governar o ser, na intensidade da razão

Olhar, pensar, depois de tudo, quedar-me subjugado

 

Não sentirás meu rosto úmido das lágrimas chovidas

Que, todavia, não esquivarão do espelho inclemente

O amor não é o sobrenatural nem algo de miraculoso

É o sentimento que deve fluir sem esforço, igual flor

Que não precisa de esforço para exalar seu perfume

E um dia perfazer a promessa de ser fruto e semente

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