quinta-feira, dezembro 15

Lúcida Insensatez

Desperto do sonho aos soluços, entanto não há lágrimas
Aquela imagem dolorida, outra vez vem a me deslumbrar
Seu vestido tinha um decote onde podia verter os olhos
A relembrar seu corpo tão meu, quanto minh’alma é sua
E aquela mulher iluminada, que suspirava como acordes
É só a pintura, que nas galerias da memória, já esmaeceu
 
É o que basta, pois tatuou-me na pele e carne o que sou
Desde o primevo dia percebi em mim que não seria igual
Em que nossos olhos enlaçados eram espelho do querer
Que, incontroláveis, nas tardes de amor eram incêndios
Quietude impossível, insônia enlouquecida, delírio feliz
O delírio que fazia subir de dois em dois, todos degraus
 
Imagem esbelta que vem de rompante, loucura e lucidez
Nostalgia que me derrota todas as cautelas de salvar-me
Sem planos e sem tremores, sem impaciência e sem votos
Apenas um réquiem como quem busca no esquecimento
Olvidar dos dias quando andávamos nus de corpo e alma
Onde o amor era nossa expressão de olfato, gosto e tato
 
Já se vão distantes os dias desse calor corporal, viscoso
O verão é uma névoa delicada que agasalha a atmosfera
Na dor eu canto, mas cerro meus punhos, não me rendo
Posso até trazer no poema uma dúzia de palavras pueris
Mas não olvide, sou o protagonista a permear os tempos
E enfim vê-la desgarrada da morte que enluta meu amor


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