sexta-feira, dezembro 5

Visgo

Ouço o revoar dos pássaros de final de outono num céu de nostalgia
Com os olhos ancorados nessa imagem, busco saber do meu destino
E divago meio perdido em meio à solidão, único bem que ora possuo

Inúmeros e ásperos silêncios envolvem estes dias de cruas memórias
em que indagamos se teríamos abdicado das rédeas do tropel da vida
nestas tardes de clima precário em que a cerração omite o horizonte.

Questiono onde estaria a estrela guia? Teria se ido oculta em sombras
que deram ao sol um brilho de angústia, uma dura friagem de cristal
envolvendo a luz num labirinto a nos privar das lembranças felizes?

Sem outra saída, a fadiga consome a vida e se estampa como máscara
em nossa cara, o resultado de tantos vazios de espanto e de assombro
no desígnio de nos curvar, deixando este poema murcho de palavras.

Restou na garganta a imagem muda do que calamos em desconcerto,
de tudo aquilo que nos privamos em nome uma esperança irrealizada.
Colhemos nas trevas os frutos do plantio que se prospera em surdina.

A tela vazia reflete uma existência sem brio, um caminho descarrilhado
O pincel jaz contido tal qual o gado no cercado enquanto espera o abate
Indago porque um dia nos permitimos quedar diante da cepa do algoz

Com as asas atadas, nossos passos curtos, nossa bravura caída no oblívio
Somos quase náufragos à deriva, combalidos, sem contudo deixar morrer
A mordaça que nos cala também nos deslumbra qual o visgo da idiotia.

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