domingo, novembro 18

Alado


Em meu ser cercado de silêncio pétreo em permanente contraste
Sempre quis conhecer os signos escondidos em teu olhar esquivo
De teus dentes luminosos anunciando um sorriso claro qual farol
De teus cabelos como um trigal ao vento que inaugura o outono
Recordo o tanto minha boca aspirava te dizer no caminho à tua
Entre o ar repleto de perfume dos zimbros ao sol do entardecer

Muitas histórias se reescrevem na intérmina espera de novos dias
Nestas páginas abertas e cruas, estão meus pássaros a te desejar
Bem sabes que te disse ia tratar contigo de assuntos mais amenos
Mas tu existes dentro de mim, seja fogo ou em sombras fugidias
Bem sei o quanto me sangra saber quão curta é esta encarnação
Para permitir que nossos destinos finalmente cumpram a escrita

Li os sinais estampados em teu rosto e vi o rumor acerca de nós
‘Ela é o teu outro eu’ disse o mago, imerso em recôndito segredo
Alcei voo em meio ao assombro, busquei a figura, entalhei a rota
Ouvi a fala despida de enleio e deitei estas letras como um grito
Algo para recompor os sentidos, sombras perdidas de tua forma
A que servirá este dom que há dias me assalta e outros me foge?

Nas curvas desta vida cada traço revive encontros e desencontros
Nas finas linhas do papel abro as asas para acordar o canto enigma
Este poema de versos sem rima, fala das trevas, solidão sem trégua
Da realidade dura como pedra que se renega ao sonho que se acata
Meus transes que nesses instantes me possuem com a leveza do voo
Tantos paradoxos habitam meu coração que se nutre desse adejar

A nostalgia me trespassa como um frio punhal, em meio ao espanto
Na dor, na noite e no dom de reinventar-me alado nasce meu canto.



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