segunda-feira, novembro 19

Mar negro


Nestes dias de luta solitária signos amargurados se devoram
e nascem em mistério tomando o dorso da madrugada erma
A noite qual um negro mar aéreo é profusa de estrelas-peixe
No escuro, só o vazio com seus gritos e suas fugas sem adeus
Infecta os rostos de espanto e angústia e nem o verso decifra
Navegam em seu próprio enigma pelas águas doutro oceano

Visto azul e rumo meus sonhos para além do que conheço
Resisto e diviso o limiar do novo dia que virá do horizonte
Abandono todos acessórios e empunho a pedra dos signos
Refuto sentir a dor que me habita e redesenho o itinerário
Debruço-me naquilo que irá me renascer e me revelo outro
Na minha voz, o silêncio é o tal paradoxo desta madrugada

Busco me inspirar no lumiar precário que a noite oferece
Meu verso aterrissará no papel, qual o pássaro de agosto
Pousará entre as folhas para prenunciar a nova primavera
Virá para colorir as auroras assinalando 0 fluir das cores
Recordar-me-á dos sinos das manhãs da infância distante
Que inauguravam domingos tão modorrentos de outrora

Quais vocábulos, diante dos olhos, que falam dos sonhos
Quais líricas lembranças ficarão impressas em minha alma
E a substância etérea desse pássaro revoado do arco-íris
Como se dedos invisíveis os sustentasse fora das sombras
É da negação da gravidade que gera o desígnio de se elevar
Pois tramas trágicas do imaginário não recriam a realidade



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