quarta-feira, junho 5

Reviravolta



Eu me sinto perdido na cidade, tal qual eu nunca fôra daqui
Sigo com passos lentos, a observar o que haja de belo à volta
Procuro reduzir meu sofrimento, me ajustar a essa realidade
Os fatos recentes foram como um açoite, foram só mentiras
Que eu quis acreditar e isso fez as noites muito mais escuras
Cheias de nuvens entremeadas pela escuridão real ou ficção
Só a tristeza se faz presente e eu busco algo mais a descobrir
Como sempre fui visionário, o que tem sido a minha perdição
Ouço a música que canta e dança, notas que me preenchem
Pouco a pouco o som transforma e vejo atraentes paisagens
Então estendo minhas asas de águia e dou impulso para voar
Montanhas surgem adiante e na campina as crianças a correr
Sou apenas uma silhueta lá no alto, numa atmosfera distante
Mas a realidade é bem mais dura e a vida corre aqui no chão
Vivemos reféns desse profundo medo, há um milhão de anos
Procuro pelas respostas nesta terra, mas só há grãos de areia
O amor vem e o segues, o vento chega e ofusca toda a beleza
São tantos os gestos impercebidos, laços desfeitos sem depois
Mas seguimos buscando os significados e não se pode explicar
Um relâmpago cruza o céu e é como um despertar num estalo
Olho acima e descubro que o que importa sou eu, não o vento
Abrir o coração para o nascer do sol, nada a buscar, só viver
Serei a reviravolta e as palavras do poema farão tudo se revelar


Um comentário:

  1. Dois comentários gramaticais: "fôra" na realidade não é acentuado, mas tomei a liberdade de fazê-lo para que o leitor não tenha que avaliar se é "fóra" ou "fôra".
    "Impercebido" não está nos dicionários formais. Mas o que fazer se eu queria dizer exatamente isso: impercebido... tal qual 'imperfeito'? Nenhuma palavra soa igual para o que eu queria dizer.

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