Numa noite de lua cheia as sombras dançam
à luz da fogueira
Na sala o crepitar de uma vela negra tem uma proposta amena
Poesia e música aclamam que a alma se aparte do corpo denso
Ela olha a mim com seus verdes olhos de
puma, doces e afiados
E seu olhar é um convite ao qual não devo negar: descobre-me
Uma beleza ímpar me pede desvendar sua
geométrica equação
Vai a me invadir até que eu me perca e me ache em seus
cachos
Pouco mais importa, nenhuma dor mais importa; é o seu triunfo
Pouco mais importa, nenhuma dor mais importa; é o seu triunfo
O que poderia parecer uma alegoria de
brilho ela faz ser trivial
Faz o coração que tantas vezes morreu renascer
heroicamente
Sem medos ou esperanças, sem passado ou
futuro, apenas hoje
Recobro minhas asas de falcão na abstração dessa música leve
Como um rito da inocência que estivera
sufocada pela angustia
Quase que perdida entre os escombros desses fardos passados
Todos os grilhões se partem, quanto mais a temer mais a
esperar
Superar o medo do voo é a recompensa
de ver o mundo do alto
Riscar o azul numa curva enlouquecida
sob o olhar dessa moça
Sem alarde ou menosprezo de mãos dadas
numa única anarquia
O tordo em seu canto anuncia o fim das
disputas num novo dia
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