sexta-feira, junho 21

Vela Negra


Numa noite de lua cheia as sombras dançam à luz da fogueira
Na sala o crepitar de uma vela negra tem uma proposta amena
Poesia e música aclamam que a alma se aparte do corpo denso
Ela olha a mim com seus verdes olhos de puma, doces e afiados
E seu olhar é um convite ao qual não devo negar: descobre-me
Uma beleza ímpar me pede desvendar sua geométrica equação
Vai a me invadir até que eu me perca e me ache em seus cachos
Pouco mais importa, nenhuma dor mais importa; é o seu triunfo
O que poderia parecer uma alegoria de brilho ela faz ser trivial
Faz o coração que tantas vezes morreu renascer heroicamente
Sem medos ou esperanças, sem passado ou futuro, apenas hoje
Recobro minhas asas de falcão na abstração dessa música leve
Como um rito da inocência que estivera sufocada pela angustia
Quase que perdida entre os escombros desses fardos passados
Todos os grilhões se partem, quanto mais a temer mais a esperar
Superar o medo do voo é a recompensa de ver o mundo do alto
Riscar o azul numa curva enlouquecida sob o olhar dessa moça
Sem alarde ou menosprezo de mãos dadas numa única anarquia
O tordo em seu canto anuncia o fim das disputas num novo dia

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