quinta-feira, setembro 19

Ensaio


Há dias que se acende a melancolia, a qual fosse uma febre
O que é quase um pranto brota dos olhos, em descompasso
Imagino-me como se estivesse só e bêbado no mundo baldio
Então nada basta, nem meus verbos intransitivos nem o luar
De tão absorto, nem sei se ainda estou comigo nessa queda
Ou vendo à distância a vida correndo do outro do estuário
Enquanto meus olhos navegam pelo mar das consequências
Ah, são tantas cicatrizes e são tão doloridas para se olvidar
Dão ares de que já se infiltraram entre as fibras de meu ser
Não há um ensaio para a vida, vivemos o próprio ensaio vivo
Eivado de revezes e de teorias indiscerníveis sobre o existir
Não se deve julgar o presente pelo passado, que é só ensino
Mas é então que surges no sonho, incendiando-me os lábios
Para que eu me desvie do desânimo, o qual me levaria ao fim
Pois essa que borbulha à frente não é realidade, só miragem
E teu corpo emerge das nuvens vestido de seda e esperança
Para me ensinar a esquivar tais gretas em caminhos falidos
Tuas palavras singelas, verdadeiras, meu coração reinventa
À noite nasce o poema, ignífero, resultando do ensaio de ser
Para deter a sensação da queda, uma preparação milagrosa
Devolves-me aos trilhos e ao destino que escolhi ao teu lado
Viver a vida que houver, finita, mas eterna em que seja amor

Nenhum comentário:

Postar um comentário