A vida escorre veloz entre os dedos nos ventos da tarde
Foram tantos
sonhos perdidos nessa angústia e silêncios
Nessa sombra parda de chuvas que se abrigaram
no viver
Doía o suspiro súbito, a paz roubada e
as asas recolhidas
Na ausência imperdoável que criava o
vazio no meu peito
Então ouvi teu nome e assim o
amanhecer se fez de luzes
E foi porque te encontrei, como eu sei,
já fiz noutra vida
Pois como
iria conceber um sol, se jamais tivesse te visto
Para olvidar de tantos ais e de tanta
mudez de dias cinza
E só o
amor vai trocando as palavras deste canto amargo
Daí eu abro as asas e me atiro intrépido
ao desconhecido
Para fazer a mágica e transformar
estes tempos invernais
No engenho luminoso, onde te espero, desvairada e minha
Para te dar conhecer a nua realidade de meu amor por ti
Enquanto o perfume das flores vai a ocupar
o ar da noite
Ao invés de estradas frias, sei que
meu caminho é contigo
Já não mais sou o andarilho insepulto
e nascido na insônia
Sou, antes, o que toma teu rosto entre
as mãos a te beijar
Eis que já renasceu o poema em mim e o
poema afinal és tu
Este sentimento não
tem tradução, é mais ação que palavra
Como posso traduzir à luz da tarde, ao
sabor do vento
o que vive no coração, à flor da pele,
o que é destino?
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