sábado, junho 24

Vitrais

Ah, eu queria impedir a aparição de tua figura

Fechar com cadeados a tua lembrança em mim

Silenciar o teu perfume nesta teia tão confusa

Nutrir o olvido c'as exuberantes imagens tuas

Fingir que, de repente, não me roubas o fôlego

Que os teus olhos tão mansos quão profundos

Já não me fitam de soslaio, quando me distraio

Teu corpo nu, demasiado meu, tão vertiginoso

Que, por decoro não revelo, tanto me inundou

Felina, doce e incontrolável ignorando as portas

Que eu punha para negar a nossa cumplicidade

Disso tudo, agora me sinto incapaz de esquecer

Ao invés, faço, à maneira de um eco, é ressoar

Eu te multiplico, reinvento em tantos espelhos

E já que estou como um louco, que fosse feliz

Na sonoridade de tua lembrança que me toma

Dourada, marcante, por vezes, serena e ligeira

Por vezes com a profundidade de um lamento

Noutras desesperada e violenta qual o silêncio

Mas sei que falharão as tentativas silenciar-te

Pois não há como calar algo da história de nós

Que vive a buscar mais, mas jamais incompleta

E o tanto que já te quis, derramei neste poema

Onde eternamente bailará tua luz intrometida

Através dos vitrais dessa minha eterna solidão

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