domingo, julho 30

A dor de escrever

 Há vezes em que escrever é uma dor sem contornos

Algo que viaja dentro de nós é, por vezes, tão infeliz

Qual um brilho negro, um fulgor trazido pela solidão

O rigor da contradição de estar parado movendo-se

No paradoxo que não se cala além do entendimento

É o desamor, a fúria, o drama de um inimigo interior

Que, perturbado, se descobre na própria identidade

É fogo que não queima, o corpo não cintila e se cala

E reverbera o eco esquivo de suas ocultas fantasias

O quadro interminado em que o vazio se multiplicou

Até pergunta-se do fluxo sonoro de antigas palavras

A cor vibrante do escrito, viva nas primeiras fábulas

Parece não se recompor, límpido como era no início

Mas se apresenta frio qual palavras de um geômetra

Que a plateia ouve calada, sem qualquer sentimento

Teria a sombra devorado o brunido das conjugações

Teria o poeta partido, se tornado tão só um fingidor

Vou negar na certeza de quem já jogou com a morte

E venceu por amor, assim descobriu as próprias asas

Pois quem ama luze, viaja a estrada além da tristeza

E preenche a angústia nas trevas onde se concentra

Reinventa a esperança num amor que cale nossa dor

Faça do drama o risco de quem vive só da sua forma

E no tumulto do espaço sabe a vez da fala da paixão

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