quinta-feira, fevereiro 8

A besta

Na espera das ilusões reconhecidas, que o vento da tarde resume

Admiro todas as frases que um dia os poemas já ousaram conter

Ouço o caminhar do passo desigual do fauno de contos de fadas

Que com seus olhos afiados exibe a proposta criada em porções

Na noite de lua cheia, o crepitar da parca vela e o sonho alheado

Inertes, se revelam no tempo e acolhem tantas palavras eviternas

À borda da lápide fria, silenciosa e abstrata, qual presa a se agitar
Como um tolo inseto atordoado que procurou a fatal luz brilhante

Duas letras separam a sala da cela, recriando frio e mortal delírio

Onde cairemos nas teias de um par de quadris de ritmo ondulante
A besta disfarçada de anjo que se apresenta irrecusável ao incauto
Ela o deixará paralisado e indefeso com seu doce olhar insaciável

Avança silenciosa e misteriosa, munida de uma astúcia irracional

E convidará à dança proibida neste perturbado mundo cru e irreal

Permitindo que tudo possa ser como nunca nada foi, ontem e hoje

É meu conselho, nesta liberdade a que me atrevo, evites o abismo

Pois lembra-te: as palavras são somente um adereço sem proveito

Quando pronunciadas sem lastro do coração, fonte da lei primeva

Os espíritos rudes não terão assento à margem do cálice supremo

Só restarão as disposições do coração quando a sombra precipitar

Seja o pó amargo, mas sempre haverá linimento, para tantas dores

Violando o silêncio grasnam pássaros selvagens alçados ao vento

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