segunda-feira, fevereiro 26

Criação

Relâmpago na noite, o ar parece palavra de aço infinito

Um vinte e seis de fevereiro, frente a frente tão súbito

Vêm os rouxinóis, estrofes, as cruzes acima dos mortos

Sou qual o rio entre páramos tristes, homens e desertos

Os rifles e balas, palavras preciosas e verdades maduras

Rostos ocultos entre espelhos baços, em suas molduras

É como sentir-se ausente ou mesmo um quase não estar

Cantar estrelas como cantam as ondas que vêm do mar

As músicas quietas, o orvalho lento, o aroma das ervas

E tu me olhas, vens, me chamas e entanto não me levas

As tuas mãos de mel num sonho de rubi a fala inocente

Escreve minha pena de menino neste verso adolescente

Meu não soneto, meu poema com rima, fogo que saúda

A história de um anti-herói, a eloquente história muda

Solto meu último suspiro uma carta em meio ao frenesi

Da pétala lilás do goivo, sinto o aroma que emana de ti

E da tua voz mais enorme, mais imensa que a imensidão

Salta uma imagem de deusa, carícia sonora de sedução

Reverbera na cena: transparente, pura, rebelde, audaz

E assim se fez vibrante, fogosa tão eterna quão fugaz

Soa o sino, estalos e faíscas nas nuvens negras do céu

Foi assim que te criei na mentira plácida do meu papel

 

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