sexta-feira, fevereiro 2

Esperança

A noite balbucia seus segredos como um peixe rés à tona

Numa busca frenética de migalhas ou de ar para respirar

São histórias que arranham a parede crua da madrugada

Indo ao chão as reticências caídas, egressas de álgido pó

A cidade e suas contiguidades, são quase promiscuidade

Os vizinhos bradam na sala entretanto tocam Beethoven

Ouço uma nota desafinada entre o jubilo e o sofrimento

Na lareira, a lenha crepita sua dança sem notas musicais

A noite lança seus anônimos segredos causando frêmito

Espalhando-se como vírus entre alienados e desgarrados

Ao dorso das ruas, em fiel aprumo, portas ocultam vidas

Almas de mentes silenciosas em sua lenta circunvolução

Enquanto galopa pelo asfalto o corcel branco da justiça

Talhado co’o fim de negar aos míseros ínfimos quinhões

Amostras desumanas de sabedoria qual um sopro divinal

Pela calçada uma anciã caminha em seu pisar cuidadoso

Entanto tenta, em vão, vencer o diminuto tempo de vida

Insciente da beleza que pode ornar os parques invernais

Nas intempéries faço-me a salvo dos olhares indiscretos

Detrás das letras, timbres e versos com Deus por fiador

Escrevo por fé que minhas asas me livrarão de derrotas

Quando a noite vier roubar a última palavra que lembro

E revogar num espasmo qualquer minha estada por aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário