sábado, maio 11

Cena de Bar

Foi um tempo em que ainda não conhecia teu lábio sagrado
Vesti uma máscara tranquila no inexistente tempo da noite
E eu vivi a noite boêmia desdobrada atrás de cortinas sujas
Em personagens pitorescas nas esquinas escuras da cidade
A sorver o ávido, cálido cálice de licor ao pé da madrugada
Á porta da casa uma sombra, quase vertigem, agita as mãos
Aquele que rejeita seu pão é aquele a quem cabe os restos
Um solene iletrado se acerca para ler o poema que escrevo
Mostra obscuro rancor porquanto meu escrever filosófico
Entanto não sou enquanto poeta mais do que é meu escrito
Mas sei que vale dizer-lhe que se à noite todo gato é pardo
É, por paradoxo, a luz o que faz as sombras mais profundas
Uma multidão de ausentes envolta na sua vigília indesperta
Recolhe as migalhas do banquete ao qual não foi convidada
Assim guarda no coração tudo de iníquo que encontrarem
No dia seguinte serão contadas tantas histórias inexistidas
Os traidores, suas pálpebras semicerradas e olhos oblíquos
Levantam fingindo respeito para saudar a quem desprezam
Os bêbados transportam suas frágeis certezas até as mesas
Avançando pé ante pé pela vacilante monotonia dos copos
Numa mesa de canto, observo todas as cenas desse enredo
Inglória busca ao amor perdido, que nunca pude encontrar
Ela passou por mim com seu hálito de hortelã e eu nem a vi


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