Cena de Bar
Foi um tempo em que ainda
não conhecia teu lábio sagrado
Vesti uma máscara tranquila
no inexistente tempo da noite
E eu vivi a noite boêmia
desdobrada atrás de cortinas sujas
Em personagens pitorescas
nas esquinas escuras da cidade
A sorver o ávido, cálido
cálice de licor ao pé da madrugada
Á porta da casa uma sombra,
quase vertigem, agita as mãos
Aquele que rejeita seu pão é
aquele a quem cabe os restos
Um solene iletrado se acerca
para ler o poema que escrevo
Mostra obscuro rancor
porquanto meu escrever filosófico
Entanto não sou enquanto
poeta mais do que é meu escrito
Mas sei que vale dizer-lhe
que se à noite todo gato é pardo
É, por paradoxo, a luz o que
faz as sombras mais profundas
Uma multidão de ausentes
envolta na sua vigília indesperta
Recolhe as migalhas do
banquete ao qual não foi convidada
Assim guarda no coração tudo
de iníquo que encontrarem
No dia seguinte serão
contadas tantas histórias inexistidas
Os traidores, suas pálpebras
semicerradas e olhos oblíquos
Levantam fingindo respeito
para saudar a quem desprezam
Os bêbados transportam suas
frágeis certezas até as mesas
Avançando pé ante pé pela
vacilante monotonia dos copos
Numa mesa de canto, observo
todas as cenas desse enredo
Inglória busca ao amor
perdido, que nunca pude encontrar
Ela passou por mim com seu
hálito de hortelã e eu nem a vi
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