Lembras dos breves dias de junho que estão batendo à
porta?
Lembras os morangos silvestres ou das gotas rubras do
bordô
Logo mais nada teremos a celebrar senão um mundo
mutilado
A vida é qual viagem de
trem: partida, já não se pode refazer
Ah, o sol parecia tão delicado à nossa juventude
preocupada
Com sua luz que, errante, aprofundava as cicatrizes da
terra
Amava escrever no silencio da noite na quietude de
catedral
Tudo tão quieto, calmo, cheio, intenso qual fora uma
prenda
No instante limítrofe do adormecer, pouco antes dos sonhos
Sinto vir uma euforia (enjoado de realidade) a abrir a
cortina
Tecer versos de poema entre o lápis e a máquina de
escrever
Madrugada, silêncio, o que escreves e ninguém entende bem
Leio poetas vivos e outros mortos e sou um tanto como
eles
Olham-me vivo, por certo,
todavia por vezes sinto-me morto
Ferido entre árvores estéreis em sua pura indiferença
verde
Vejo meu carinho exilado
e ser correto sem ser reconhecido
Pensei em ti e também no vazio, vejo pássaros pretos a voar
Se já não sou jovem tenho fé e orgulho, cada dia mais
velho
Qual a moeda de prata
que, aos poucos, desgasta sua forma
Mas, nem por isso perde um cêntimo do valor
que expressa
Queria poder me curar das ironias, dos olhares superficiais
Que veem mas não penetram
são mais atrozes que o silêncio
Queria poder mesmo não
admitir que tenho certos defeitos
Na escuridão desta voz que conta e mede, lembra e
ignora!
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