domingo, maio 19

Desatino de Outono

O outono vai caindo das árvores e deixa um vazio de suspiro
A espera é uma estação de trem num domingo azul qualquer
Os pássaros abandonam os galhos monótonos, vão ao oriente
Aprendemos a musicalizar o velho bronze fazendo-o um sino
Que soa postando os fiéis aos joelhos, encharcados de rezas
Entretanto, não fará ver os mortos nem fará ouvir os surdos
Ando pelas ruas empedradas e a lua se esconde nas esquinas
Enquanto flores e carnes disputam na prateleira no mercado
Foi assim que descobri o amor no teu beijo, vertiginosamente
Estavas impropriamente alegre, embaraçadamente romântica
Nossas faces rubras, nosso sorriso de criança comprometido
As partículas do tempo deslizam por dias mais e mais velozes
Nada é qual já foi, o pássaro solitário no telhado espera o dia
No sinal está o rapaz na rua que, esfomeado, brinca de circo
E as lágrimas derramadas se esmiuçam como migalhas de pão
É como chegar às profundidades, deixar irremovível lamento
Ante essa voz, o desfolhar da folhinha, sorte estar incólume
A cidade transpõe paulatinamente, dentro da noite em luzes
Saboreamos com ritmo todos olhares, o sorriso que nos uniu
Entretive-me em refazer tua imagem, corpo em telas e cores
Entretive-me em tecer tua memória com palavras escolhidas
Encontrar-te foi um ínfimo de lucidez em todo meu desatino


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