quarta-feira, setembro 11

A Carta (O Barquinho Vai)

 
Tenho nas mãos tua carta (e a surpresa que a tenhas escrito)
Olho-a tristemente e lembro muitas histórias do meu passado
Sei que não vês, que não sentes a emoção, nunca a sentistes
Devo confessar que não a abri, tampouco não prometo abrir
Espero estejas bem na tua ausência que nunca fora só física
Sei que o inverno por fim chegou até ti e assim te faz sofrer
Mesmo não desejando teu mal, todavia, isso não me importa
Como naqueles dias importava, demais até, cada suspiro teu
Ah a paixão, essa mania dos tolos e dos poetas (e sou ambos)
Olho para trás e observo as dunas que se elevaram entre nós
Desérticas, intransponíveis quais as tuas frívolas promessas
Eivadas de palavras polidas na forma, quão vãs no conteúdo
É hora de olvidar as aventuras, os sorrisos de cada chegada
Assim como foram ao oblívio, as lágrimas de tantas partidas
O que afinal poderias ter escrito que eu já não tenha te dito
E tenhas solenemente ignorado ou, quando não, contrariado
Não vou negar que há memórias inenarravelmente doloridas
Aquelas de nós qual amantes, de nossos corpos extenuados
Mas as sugestões dos amigos, te cegaram mudando os fatos
Para vê-los qual quisestes: da pior forma que se o possa ver
Eis que à carta que me destinas, cabe outro destino melhor
Seguir a corrente que a chuva da tarde formou no meio fio
Em esmerada dobradura à qual aceno o adeus que não deste

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