Sem respostas
Novamente é setembro trazendo a primavera
A chuva açoita as árvores que
vejo na janela
Ouço o vento e seu discurso
de monossílabos
As vozes d’antanho recitam
versos triturados
Lá se vão os irremediáveis
fantasmas da noite
Minha realidade se dilui em águas e sombras
A caneta sobre a mesa e as folhas em branco
São um convite irrecusável
meio ao labirinto
O poema desafia as horas que vão levar o dia
E o clarão do luar desafia a
incessante névoa
Chuva, névoa, tudo guarda um certo encanto
Apesar da nostalgia que fez o pássaro emigrar
O que afinal nos movia? Era busca aos frutos
Ou o salto, a queda, o voo
a desafiar o vazio
Escolhemos as palavras e
esquecemos os atos
A noite avança e traz suas fadas e duendes
Então me recordo do que
parecia impossível
Um dia tu não voltaste, negando a felicidade
Poderia até me enganar, dizer que não te
amei
Que a alegria que me vestia quando tu vinhas
Não era por ti, mas justo porque o sol
brilhou
Negar a volúpia que sentia ao beijar tua
boca
Que me despertava todo desejo e juventude
Mas como negar o que era claro como cristal
Quem éramos? Pela janela busco as respostas
Só vejo a chuva, com ela o silêncio e vertigem
E onde era sonho é o vazio de dias
obliviados
Na tua ausência o amor se esvaiu qual outono
Ficou ao passar um labirinto de folhas caídas
A história não narrada e o poema não escrito
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