Da
porta dos fundos, olho a chuva que cai e as lembranças vêm
Daqui
não escuto os automóveis, frenéticos,
a passar pelas ruas
Vejo
o leve vapor que se desprende dos telhados sem seus gatos
Tudo
se ilumina e não estou mais ali, vou revisitar outro cenário
Algumas memórias doem como chicotes na pele no
escuro do dia
As
cortinas ao vento da janela distante é o
fantasma que acena
Para nos lembrar da temporalidade de nossa passagem
por aqui
Deixo-me
levar pelo perfume das flores, na terra recém-molhada
Sigo
por caminhos tortuosos como o peregrino em país estranho
Que
partiu para descortinar os mistérios contados ao pôr-do-sol
Os
últimos raios do dia, refletem nas faces
e seus cílios de metal
O
poeta em sua azáfama de alquimista, constrói
do éter o poema
As
sombras caminham entre as árvores, encobertas
pelo nevoeiro
Em
meio a penumbra, ouve-se em coral, remotos sorrisos infantis
Brota
no peito uma nostalgia: sou eu ontem entre esses cenários
À garota de olhos cinza, ofertei-lhe a mão para evitar
os espinhos
Fomos
assistir o pôr-do-sol, sentados numa pedra à beira do vale
Vimos
juntos chegar a noite e, sob o luar, tocaram nossa canção
Caminhamos lado a lado e
levamos o som da poesia no coração
Entre as estrelas ofertei-lhe uma flor e ela logo sumiu
na bruma
Pois,
de volta ao real. Lá na frente as pessoas
apressadas se vão
Seus
calçados polidos e brincos de pérola passando
de lá para cá
Nem
se dão conta da minha presença, silencioso a lhes observar
A
mim, apenas resta pensar no outro eu
que vive dentro de mim
Nenhum comentário:
Postar um comentário