quarta-feira, abril 24

Oceanos


Sou a nau que singra os mares em busca do cais, um abrigo
Mas não há terra à vista, apenas o solitário azul desse céu
As gaivotas na algazarra em bando passam céleres por mim
Seguem o caminho que só elas conhecem rumo a um porto
Carrego nos porões tristezas ocultas, que as aves não vêm
E no horizonte as nuvens rugem anunciando a tempestade
Logo chegará a chuva, profusa, sinal que o outono já vem
Agigantam-se as ondas contra o casco neste mundo tirano
De forma inexorável, sopram os ventos insidiosos do existir
Nos paradoxos da vida cotidiana, contínua e contraditória
Já nem sei onde mais nos encaixamos nessa surreal história
Num agora que não é sonho, mas também não é verdadeiro
Será parte de um momento fictício ou está sob minha pele
Na minha carne de realidade indelével como uma tatuagem
Agora nesta busca interminável, nada parece fazer sentido
Só viver em luta com um passado que jamais será esquecido
Como um retrato na memória que se partiu em mil pedaços
Ou a música triste a tocar, que inda ecoa nos meus ouvidos
Foi assim que partimos em silêncio na busca de nós mesmos
Medos, amores, receios e beijos... foi muita coisa entre nós
 Hoje a distância é tanta, que nem o oceano foi capaz de ser
A noite acaba, a história termina. Essa chuva já virou rotina
O homem de terno cinza olha o céu e abre o guarda-chuvas

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