quinta-feira, abril 11

Qualquer céu


Estes dias tenho revisitado as velhas vielas vincadas de mistérios
Entre vestígios de outro tempo, uma vertigem quase nauseante
Com a face pálida, desbotada, quando o vento frio a descolore
A expressão nua de desejos ou segredos para cortejar o tempo
Que outrora me entreguei. Busca sem razão, razão sem sentido
Nas noites sujas, mulheres torpes, o tempo vai e não volta atrás

Essas horas tão exatas que a ninguém perdoam em seu cavalgar
O que mais perdi ao não vê-las passar é o que vi e não pude tocar
Por rumos insensíveis, torturantes canções que mal pude ouvir
Foi pouco mais que um sussurro e num segundo, soube de tudo
O céu noturno se cobriu de êxtase, vazio como sexo sem paixão
Apenas uma fome de viver, nem viver, só fugir da garra da morte

Mas foi como renascer com as descobertas dessa natureza crua
Meus mitos, mortos e insepultos, uma procissão de tristes velas
Um cortejo trágico e ainda assim inconformado com as palavras
Frases famintas de expressão e as flores nas janelas da velha casa
Não vim para te contar daquilo que se sente quando a ânsia vem
Se o que se sabe é que a jornada só terá fim no último por de sol

Vim pra te dizer o que descobri, nos místicos sonhos de cada dia
Se não se pode mudar o todo, é porque nem se deve mudar nada
A rosa vermelha quando seca, murcha e fica negra, ainda é a rosa
E todo desconforto que sentimos, vem da ira, do desejo sem alma
Porque toda nudez só se faz obscena, quando o amor não está lá
E as coisas belas são o que são sob qualquer céu, basta acreditar

Sempre pranteamos nossas tragédias, mas ruas vazias vão a lugar algum
As mágoas devem ser qual palavras na areia, deixadas ao mar vir buscar

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