quarta-feira, abril 3

Jogo de Xadrez


Remotas lembranças me vêm qual sombras impressas no vento
Vestígios de tempos de outrora num aceno de cores e cheiros
Num gesto veste a alma de saudade, rápido como o desespero
Abre as janelas de onde vejo o sorriso de um passado distante
Cabelos soltos ao vento, o brilho sem fim daquele único olhar
Quando se descobre que a busca de uma vida enfim terminou
Mas um dia o destino escolhe que não e nem uma foto restou
Imagens sem face e sem jeito à mercê desse caminho sem volta
Os desígnios da vida ocultam muito mais que os jogos infantis
Entro e saio, abro portas, mas todo lugar é só um grande vazio
A vida parece que só está à periferia da minha árida existência
Ao centro são pedaços inacabados. São náufragos a resgatar
É como sentir-se uma tela esquecida na parede do velho museu
Ah, vida breve como borboleta, abstrata, como algo que não é
Um instante recluso dentro do tempo ou uma ilusão inacabada
Será essa saudade intensa, a cura submersa na minha realidade?
Tantas coisas a passar ao meu redor, filtradas pela minha retina
Que vezes até duvido existir e ser uma visão onírica do criador
Nestes textos desconexos a que chamo poesia, o real se alheia
Quem pode dizer que sabe do bem e do mal em equilíbrio enfim?
Talvez sejamos apenas os loucos num manicômio, peças de jogar
Em um surreal jogo de xadrez que, ao certo, nunca vai terminar


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