domingo, março 15

Vida Efêmera

O poeta se despede do verão, no coração recorda de sua amada
A tarde vazia traz o barulho das ondas frias quebrando na areia
No céu raios relampejam nas nuvens escuras rompendo o silêncio
Esse rudimentar ruído ecoa nas pedras que carrega dentro de si
E nesse instante, toda memória de amor aponta àquela a quem ama
Que vive como espírito ardente e imortal transcendendo a carne

É a mais perfeita lembrança que tem da última vida que viveram
Numa atmosfera além do bem e do mal, até sobre todas as coisas
Até transformar o amante na própria amada, bem além da fantasia
Na certeza que a essência dela lhe corre nas veias quente e rubra
Como o mar que a baía circunscreve espelhando os pores do sol
É noite feita luz, da vela o próprio castiçal e o vento que a sopra

É o paradoxo de existir e ser, invisível aos olhos e não ao sorriso
Lembra o som do rio, que segue seu caminho a açoitar as pedras
Porém é a ponte, caminho seguro, sobre essas águas tão revoltas
De quão grandes ócios se faz o poema, de quantos gestos então?
Quantos vezes se ouviram nãos na busca vivida até o primeiro sim?
Quanta dor foi sentida até a descoberta do bálsamo desses olhos

Tenho medo, como criança, que tu não gostes dos meus poemas
Então deixa aqui tua marca, assinala tua presença na minha vida
Para aflição de meus algozes, diz que ouves minha voz te chamar
Marca de forma indelével tua presença e propriedade sobre mim
Revela esta realidade como é e foi na minha alma há tantas vidas
Levanta a bruma do imaginário, te aceites minha, pois é o que és

Sejam estas palavras a reflexão concreta do que temos no peito
Como é bom saber-te o mais sólido desta vida antes tão efêmera


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