quarta-feira, agosto 16

Homenagem

 

Julguei um dia te admirar, tão íntegro, além das etiquetas

Mas tais enganos o tempo revela a quem desejar conhecer

O brilho nômade que te ilumina o íntimo, a brasa consome

Abres a passagem tão só a certos escolhidos tormentosos

Que transitam em antros de luxúria sombria e reverências

Criaturas melancólicas que só vejo agora que te conheço

Enquanto persegues os fantasmas vazios da coluna social

Povoada do orgulho que grassa qual faz a hera nos muros

Assim te manifestas no idioma da nefasta paixão e veneno

O poder te consumiu em êxtase, o sopro de real grandeza

Agora não tocas mais minh’alma que vive muito além de ti

As portas do inferno se abriram para tua solene chegada

Verás nos saguões onde se cruzam a chuva e a frustração

Os aduladores trazendo maços de flores belas mas podres

Ao passo que com pompa exibem sua opulenta inutilidade

Fazendo ingênuos pássaros multicores grasnarem furiosos

Hoje enfim posso ouvir os rumores sufocados de antanho

Coros de candelabros lascivos que não iluminam as trevas

Putrefatos portais de mármore ligados de face ao abismo

Pomares tão solenes todos cobertos de flores carnívoras

Mas nem lamento, pois, a ilusão da virtude já foi um guia

E se hoje sou quem sou, devo ao que nunca viestes a ser

Nenhum comentário:

Postar um comentário