segunda-feira, junho 3

Caleidoscópio

Todas histórias cruzam-se pelos meus caminhos nesta dura vida
E num olhar que só pertence a mim penso no nada, o doce nada
Meu eu pássaro sobrevoa sobre as nuvens na fronde das árvores
O chão esquálido é o sinal que o inverno chegou outra vez mais
Deixo de lado a pena, sinto que sonho e realidade se equilibram
As rotas pelo céu sejam quais andanças, não possuem labirintos
Chega o entardecer acordando centenas de estrelas orgulhosas
Orgulhosas, mas não como as vozes de filósofos, vindas do leste
Esquecidas de seus donos, grassam entre ervas aflitas de olvido
O fogo das conversas é qual uma antiga oração que não queima
É o fardo dos profetas e de profecias pobres de senso de humor
A escuridão voltou em memórias rápidas e esquecimentos lentos
Entre as pequenas colinas toca distante, um prelúdio de Chopin
Freixos e choupos do campo quedam majestosos ao longo do rio
Que cicia palavras misteriosas em suas fontes, refletidas no céu
Marcham pacientemente e atravessam a cidade em busca do mar
O gris celeste anuncia com trovões, a vinda de nébulas coléricas
Não há ninguém nas janelas, cerradas desde as mais tenras horas
Como que envergonhadas das chuvas que caem fora de estação
A chuva dissipa o balé de andorinhas e sua poesia de movimento
Foi assim que me vi solitário frente ao monstro opaco da cidade
Com seu hálito acre, suas rugas e cicatrizes, as dores reiteradas
Aqui rescende ao odor deste inseparável tinteiro azul turquesa
Que ora serve para impedir que o vento carregue meus escritos
Onde o poema colore o dia e o pássaro, pousado, pode descansar

 


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