domingo, julho 14

Sanidade

Morte esbelta e rompante, indizível sereia musa dos suicidas
O céu é de um azul tão comum e o vendaval sopra o milharal
Seu chamado replica no silêncio, como um réquiem ofegante
Para evitá-la tem que tornar-se surdo e tornar-se emudecido
Ocultar a língua, tato e olfato e amanhecer entre os mansos
Meu coração acovardado admira essa mulher signo a pulsar
Anseia amá-la e ouvir a harpa performar as sonatas da noite
Pois ela é pranto e semeadura, exibe seus vorazes argumentos
Sem planos, votos ou rumores, apenas amar nus corpo e alma
Na louca confiança, no esquecimento iminente de si mesmo
Há que se despertar pela noite que pode ser mil e uma noites
Ou até durar apenas poucos minutos, mas deve ser verdade
E de intenso, às escondidas embaralhar de novo o almanaque
Seguir sem inventar valores, apenas aprendendo a aprender
Tê-la entre os braços sem olhar os passos que ficam pra trás
O mundo existe de mentiras incandescentes. Existe e ponto
E não é metáfora, apenas é essa quietude-delírio impossível
Essa espera sem frutos de quem planta sementes de tâmara
Uma mulher peculiar que desabou sobre todos meus sonhos
Para tê-la ignoro minha sombra envelhecida, rasante ao céu
Abro-lhe o decote com ar possessivo e o que mostra é vida
Exuberância e abismo sob minhas pálpebras e mãos sôfregas
E assim é verão de novo, o amor certo a desafiar a sanidade

 


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