Segundos
Na
pretensão pueril de criar palavras, somos poderosos
Cerramos
os punhos e diante de um inverno que soluça
Digamos
melhor: acreditamos que soluça e isso já basta
Mudamos
tudo em imagens iluminadas e tênues
suspiros
Damos
pálpebras, lágrimas a uma névoa, uma atmosfera
Como
acordes de amor, envolvidos em carne e abraços
No ar
pesado e viscoso das manhãs cinzentas ou tristes
O
inverno é a mulher de vestido decotado e de olhares
Lascivos
sobre si, rezas e suspiros, lépida e tão atrativa
Que,
qual de nós podia imaginar que a morte a acaricia
Que aguarda em impossível quietude sua vez de partir
Há que
se amar, salvar-se do desastre do esquecimento
Amar
para ao menos supor-se a salvo, que é o bastante
Amar
essa mulher, fundir-se a ela, pranto rosto
e pulsar
Há tão pouco a nos impacientar, a almofada, o
abismo
Bruxas escarnecidas e teologias rancorosas,
negações
Enquanto
eu aqui preencho minha insônia com
versos
Subindo
a “escada para o céu” de dois em dois
degraus
Se a noite desabar sobre os sonhos, o delírio é sanidade
Não
canta, mas é qual se cantasse, confortável e vazia
Seu
vento espanto, silva entre o silêncio das folhagens
Há que
amar-se sem pretexto, sem desperdiçar a noite
Amontoando
desejos e luxúria, segundo após segundo
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